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Publicações e Entrevistas

Gostamos de partilhar o nosso passado e agradecemos as oportunidades de mostrar o que fazemos. Conheça aqui um longa entrevista feita aos nossos arquitetos onde explicamos os aspetos mais importantes do nosso atelier.

Entrevista ao Arq. Ricardo Cruz e à Arq. Susana Vilela

Em Julho de 2019 a revista Trends publica uma entrevista ao arquiteto Ricardo Cruz e à arquiteta Susana Barros. Veja em baixo todo o texto.

Utopia na capa da revista Trends
Utopia – Capa da Revista Trends 2019

Quando é que nasceu a Utopia e com que objetivo?

A Utopia nasce porque nos apercebemos que eram necessárias novas abordagens e metodologias de projeto para responder às necessidades do nosso tempo, ao cliente atual e a todos estes territórios de hoje. Por conseguinte, havia e ainda há um afastamento evidente entre a arquitetura e a sociedade. Por um lado, há alguma falta de cultura arquitetónica, no sentido em que a generalidade da população não entende o românico, o gótico, o barroco, o romantismo, o modernismo, etc… A generalidade da sociedade acha que é o material ou a decoração e não entende que é toda uma visão do mundo.
Por outro lado, os projetistas na sua maioria vivem e procuram criar um portfolio de autor que espelha com maior ou menor felicidade uma linguagem própria. No fundo como se estivéssemos a falar de uma “rock star” com o seu estilo. Eu julgo que este cenário deveria ser combatido.
Acho que o arquiteto não precisa de protagonismo. A arquitetura é que precisa. A obra é que é importante. O arquiteto enquanto personagem é aborrecido. Já viu o enfado que é vida do Pessoa. Felizmente ninguém quer saber da vida dele. Mas obra não! Porque é na obra que está a liberdade! Acho que os arquitetos deviam pensar se a repetição dos estereótipos pelos lugares traz alguma coisa de relevante.
Ora, é precisamente contra esta dualidade entre alienação dos autores relativamente às transformações sociais ou ecológicas e algum desconhecimento da sociedade que eu acho que nos devíamos mover.
Eu comecei a fazer um ou dois trabalhos em conjunto por volta de 2004 precisamente com esta filosofia de trabalho. Na realidade os clientes foram aparecendo e notei que a arquitetura era um tema que cada vez mais interessava as pessoas. A empresa propriamente dita nasce em 2007 e o atelier foi sempre trabalhando com esta filosofia de liberdade de conceção e preocupação em responder a uma sociedade diferente e ecologicamente consciente.

(Susana Vilela)

Porquê o nome “Utopia”?

A palavra não deixa ninguém indiferente, é como um feitiço. Há pessoas que fervem só de a ouvir e outras que começam imediatamente a sonhar.
Ela é usada por Thomas Moore no livro do mesmo nome. Trata-se de um livro do Renascimento com quinhentos anos. Utopia é o nome que é atribuído à ilha perfeita, “u” é o prefixo de negação e “topo” significa lugar. No fundo é a negação do lugar. A ilha é o lugar do pensamento. Acaba por ser engraçado porque a ilha era o lugar que Moore pretendia criar. E era a critica ao rei Henrique VIII. Utopia tem logo à nascença esta dualidade: o lugar do pensamento, o lugar da liberdade.
Sei que é vulgar ser uma arma de arremedo político dizer-se que isto ou aquilo é utópico. Mas trata-se de ignorância. A utopia devia ser de esquerda e de direita. Todos devemos ambicionar algo melhor e contribuir para isso. O imobilismo nunca poderá ser uma virtude para ninguém.
Utopia pareceu-nos perfeito para quem projeta. O arquiteto procura criar a realidade perfeita. Nunca consegue, mas tem de a procurar. A Utopia é isso.

(Ricardo Cruz)

O que fez unir em sociedade um portuense e uma lisboeta?

Eu julgo que da minha parte é precisamente a abordagem ao projeto livre de constrangimentos, livre de tiques, de estratégias de carreira que só empobrecem os territórios. Porto e Lisboa têm sociedades com elites e classes médias e baixas iguais.
É curioso que eu acho Portugal muito homogéneo nas suas divisões e hierarquias. Eu viajo pelo país do Norte a Sul e o que vejo são as mesmas aspirações, os mesmos desejos, as mesmas fobias, os mesmos fantasmas e os mesmos personagens com diferentes atores.
Um presidente de junta é igual em todo o território, tem é sotaques diferentes. Um boato em Lisboa é igual a um boato no Porto. Assim, a soberba do terreiro do paço é igual à soberba nos Aliados. Ao mesmo tempo, a vergonha pelo mundo rural é igual no Porto ou Lisboa ou em Castelo Branco. O que diferencia um académico de um taxista é igual em todo o lado.  Como sociedade, somos mais iguais do que julgamos.

(Susana Vilela)

Já ambos colaboraram com arquitetos de renome. Que balanço fazem dessas experiências?

Colaborar com alguém de qualidade é sempre útil porque a formação é sempre muito desfasada do contexto profissional. Mas não poderia ser de outra forma. Nós precisamos sempre de ensinar a teoria e a prática. Um edifício neoclássico vai ser sempre neoclássico e um arquiteto precisa de saber porquê. Pois só a escola o pode ensinar.
A prática está dependente das leis, dos instrumentos, das tecnologias, etc. A prática é transitória, mas é fundamental para o ato de projeto. Nesse sentido, colaborar permite rapidamente aprender o lado técnico e fazê-lo eficazmente.
Permite também aceder a projetos de uma escala mais elevada do que a que se teria se começarmos imediatamente a trabalhar por conta própria e assim aplicar o nosso conhecimento rapidamente em contexto real. E é altamente satisfatório.

(Susana Vilela)

Colaborar é sempre aprender. E é engraçado porque tudo pode ser colocado no espelho. Quem ensinou já sentiu isto. Como dizia o Nietzche, o abismo também nos olha.
Eu tive a oportunidade de trabalhar com abismos…(risos)
Numa aprendizagem, por um lado o aluno aprende com o professor. Por outro lado, o professor é transformado pelo aluno. O aluno absorve, mas a certa altura questiona o professor, critica, discorda. O professor rejuvenesce então e passa a questionar-se mais.  Na realidade o aluno já atingiu a maturidade e está pronto para precisar de rejuvenescer. Ou seja, precisa de ensinar e ser questionado. É como um ciclo que se alimenta.
A experiência de trabalhar com Souto Moura ou até com Siza Vieira nos projetos conjuntos destes foi de facto muito importante porque têm obras extraordinárias. Em resumo, há razões para a qualidade das obras: o método, o esforço, o processo, a crítica, a reflexão. Perceber o porquê foi muito importante.

(Ricardo Cruz)

Que tipo de serviços oferece a Utopia?

Oferecemos arquitetura. E nos dias de hoje para termos arquitetura de qualidade temos forçosamente de incluir as especialidades de engenharia. É curioso que há cem anos atrás o Walter Gropius na Bauhaus já percebia que o arquiteto ia ser um gestor…
No fundo reunimos os instrumentos para produzir arquitetura de qualidade em 2018. Assim, isso passa por utilizar inicialmente um processo de conceção que vai desde o esquiço, passa pelo desenho com software BIM, maquetes e impressões 3d, inclui toda a coordenação das especialidades e consequente integração num projeto de execução, onde se detalha e discrimina tudo. Ao mesmo tempo, o acompanhamento de obra é também fundamental.

(Ricardo Cruz)

Há algum projeto desenvolvido pela Utopia que tenha sido particularmente desafiante?

Projetos Públicos ou projetos para as multinacionais são sempre desafiantes. Mesmo que haja uma coordenadora, se tiverem 100 funcionários, nós passamos a ter 100 clientes. Nesse sentido, esforçamos-mos sempre por deixar todos os clientes satisfeitos.

(Susana Vilela)

A vossa assinatura já atravessou fronteiras. Em que países já desenvolveram projetos?

Espanha acaba por ser natural. Eu próprio estou colegiado em Espanha. Há uma considerável área de território espanhol que é física e culturalmente mais próxima que outras partes do nosso país.
Mas já trabalhamos para França, Brasil, Angola, Argélia, etc… Todavia, acho que o desafio de projetar é igual em todo o lado. Em resumo, em todo o lado existem leis a respeitar, culturas a interpretar, processos construtivos a usar, orçamentos a cumprir. Contudo, as premissas que servem de base à sua lógica é que variam em função dos territórios onde nos inserimos.

(Ricardo Cruz)

Em que medida a sustentabilidade é uma preocupação da Utopia?

Mais que uma preocupação é todo um modo de trabalho. Todo o processo toma a sustentabilidade como condição. E em profundidade pois o tema é complexo. Assim, para tomarmos as melhores decisões temos de conhecer o gasto energético que necessitamos para a produção de um material, para a aplicação desse material durante a construção e perceber as consequências das nossas opções nos gastos energéticos dos edifícios do futuro. E é aqui que verificamos que o gasto energético maior está sempre na vida do edifício. Mais que o material o que precisamos é de edifícios eficientes. A produção e aplicação tem custos elevados, mas o que mais caro sai é a ineficiência térmica e a carência de estratégias de climatização passiva.
É este o nosso desígnio: projetar algo que passivamente climatize. E o curioso é que não há nada mais económico que isto! Ao mesmo tempo vemos que reintroduzimos processos que estão patentes na arquitetura popular portuguesa. Assim, sustentabilidade, economia e cultura acabam por se fundir e adquirir os mesmos significados.

(Susana Vilela)

Qual seria o projeto de sonho para o vosso gabinete?

Qual é a vossa maior fonte de inspiração?

Um projeto é sempre uma resposta eficaz a um conjunto de problemas. Estudar as respostas já efetuadas e encontrar as deficiências dessas mesmas respostas é sempre mais inteligente.
Ora, esses problemas de natureza formal, material ou estrutural estão sempre resolvidos primordialmente na Natureza. Não somos o único ser vivo a alterar o ambiente em que vive. A Natureza foi dando respostas a tudo. Cabe-nos perceber os processos e obter novas combinações que reinterpretem as abordagens com tecnologias distintas.

(Susana Vilela)

A História da Arquitetura é avassaladora pela eficácia que tem como fonte de inspiração. Eu não sei se o Gaudi foi à Capadócia, mas as estampas das aldeias trogloditas circulavam. Ora se o Gaudi é considerado arrojado, porque não considerar a Capadócia arrojada? A Bolonha do Renascimento tem a mesma silhueta que  Manhathan. As formas têm vida própria e permanecem no tempo.
Em suma, quando vamos desenhar um parque ou uma casa é reconfortante saber que na Babilónia eles passaram pelo mesmo!

(Ricardo Cruz)

Perguntas Frequentes sobre os projectos publicados

Conheça algumas das preguntas que nos são frequentemente colocadas sobre as publicações do nosso trabalho de projeto.

Os Arquitetos da Utopia publicam todas as obras?

Sim. Poderá sempre encontrar uma publicação em jornal, revista ou televisão com um arquiteto ou um projeto de arquitetura do nosso ateliê. Mas protegemos sempre a sua identidade.

Porque publicam no site os detalhes dos projetos?

Porque cada arquiteto e engenheiro da Utopia Arquitectura e Engenharia lda gosta, não só de se submeter à crítica como de mostrar o seu trabalho com orgulho.

Os arquitetos da Utopia promovem os artigos na imprensa?

Não. Os nossos arquitetos são sempre contactados por quem faz as publicações. Cada arquiteto é liminarmente contra pagar para publicar. No nosso entender isso é publicidade e, como tal deverá ser anunciado ao leitor; salvaguardando a deontologia do arquiteto, do engenheiro e do jornalista.

Desde quando publicam projetos de cada arquiteto da utopia?

Desde 2004 que todos os anos vemos os nossos arquitetos serem apresentados com os seus projetos de arquitetura nos meios de comunicação da especialidade.